Eu tinha em torno de 11 anos quando eu vi o teto da minha casa desabar.
O forro estava condenado por cupins, e eu nunca esqueci daquela cena.
Pouco antes dele vir ao chão, eu corri para salvar minha gata.
Por muito pouco, um bloco de concreto não caiu em cima de nós dois.
Eu nunca esqueci daquela cena e nem
da sensação
de sentir o teto desabar.
Depois tivemos que desocupar a casa,
para que pudesse ser feito as reformas.
Já se passaram muitos anos e o teto nunca mais caiu,
não o de concreto,
mas o teto emocional
está se esvaindo.
Antes eu tinha uma gata para salvar
e agora
tenho muito pouco o que salvar.
A gata morreu de velhice há anos,
nos braços de minha mãe.
era uma quarta-feira e estava tendo o jogo do São Paulo.
parei de assistir,
para cavar um buraco
em nosso jardim, no meio da noite;
e enterrar ali,
mais uma porção de memórias da vida, enrolando em pedaço de pano.
Deve ser para os buracos na terra que vão todas as nossas lembranças.
Se é assim que vai ser, que sentido faz? Que diferença nos faz?
Eu já enterrei uma porção de memórias boas em diversos buracos que cavei em minha vida.
E agora
só falta quebrar e enterrar o meu espelho.