domingo, 28 de abril de 2013

Tarde demais para alvorecer



    Tempos ruins começam a aflorar quando percebemos que as pessoas próximas estão prestes a dizer adeus. A velha sensação de agonia estufa o peito, faz a consciência refletir nas atitudes erradas que foram tomadas. Nas palavra rude que poderia ser reciclada, antes de ser dita...Por todas as malditas noites que por nossa causa alguém chorou, enquanto nossa consciência tonteava tranquilamente na mesa de um bar.

    Nesses tempos ruins vamos perceber que o para sempre está chegando ao fim. Vamos arrumar nossos trapos e enfrentar a vida como tem que ser. Tornados e furacões vão nos arrastar para os becos mais sombrios. Um grande ciclo de escuridão aproxima-se com o inverno. Teremos que usar a pele de nossos corpos para ficarmos aquecidos e preparados para o terremoto mental que está por vir. A chuva se tornará ácida quando a névoa flutuar pela nossa consciência, pois agora é tarde para tentar restaurar as lágrimas que já inundaram o oceano. 

    Teremos que dar passos convictos a partir de hoje,  pois o tempo não pode esperar. Eu sei que ainda é cedo para se pensar em morte, mas é muito tarde para que possa contar com a sorte... Não será fácil para nenhum de nós, mas fiquem despreocupados,  nunca foi!
   

terça-feira, 23 de abril de 2013

Terno, óculos escuros e a angústia padrão


    De longe vejo um homem com terno desbotado, surrado devido o tempo de uso, óculos escuros e sapatos marrons, gastos e quentes. As solas ardem feito brasa em cima de um vulcão, que está localizado no centro da cidade, ao meio-dia de um verão escaldante. Esse senhor tem um sorriso pacato e amarelado, que faz questão de mostrar para todos aquele singelo síntoma do desgaste ocasionado pelo café, cigarro e o polimento do  tempo, que detona com seu esmalte. Mas ele não se importa com tão pouco, sempre prefere valorizar coisas 'mais reais', do que sua estética pessoal.    


    Típico trabalhador comum, acordar às seis; café, pão na chapa, um tapa no cabelo, ônibus, trânsito, rumo aos prédios. Chegando ao edifício, outro café; digitar, catalogar, preparar, conferir,  entregar, suar, bufar... água. No seu horário de almoço costuma andar,  olhando para os andares espelhados à sua volta, mas sempre  visualizando do solo improlífero e ardente. Nunca terá o passaporte para ver esses prédios de cima. Já se conformou com a ideia. Aprendeu desde cedo que os sonhos custam dinheiro e por mais simples que possam ser, financeiramente  são impossíveis de conquistar.


    Vejo o todos os dias, sempre sozinho à procura de uma saída. Amarga consigo o medo de que estes prédios torne sua vida uma prisão. Um cárcere tão perfeito que sequer existe portas ou muros para fugir.  O livre direito de partir está escancarado à sua frente, mas a consciência sistematizada, programada e rotulada o impede de agir. Agonia e repulsa já fazem parte do cotidiano. Já descobriu que é impossível existir um amanhã se os dias vivem se repetindo.


     Nessa busca incessante por um lugar qualquer, este homem envelhece todos os dias. No seu holerite consta os descontos de sempre: FGTS, seguro de vida, convênio médico, desconto do sindicato, desconto disso...daquilo, etc... Nunca é encontrado uma bonificação pelo seu trabalho árduo, comprometimento, eficácia e pontualidade. O salário sempre é o mesmo, a cobrança cada vez mais ampla e a vida mais curta a cada minuto. 


   No fim do mês lhe é concedido um cheque de bonificação mensal, para que possa por mais trinta dias se acabar em álcool e alcatrão. Apenas um escape, tendo a obrigatoriedade de aceitar de qualquer maneira a sua posição de cidadão padrão; sem questionar se é justo ou não, sem retrucar, sem opor-se, sem gritar, sem fraquejar, sem chorar... apenas acolher e prosseguir.
 
    

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Um pequeno lugar de grandes proporções



   Nesse lugar tão acanhado onde as paredes se espremem, onde a lógica se rebela, só se acha cigarros, café , doses de álcool e músicas para amenizar a solidão. Tudo aquilo que serve para nutrir o espírito fraco de um sujeito qualquer. Uma vida esperando por  uma saída de emergência; uma casa com poucas portas; uma janela mostrando a toda cidade uma luz acesa, em uma madrugada distante. Mas se eu ao menos pudesse gritar, com a certeza de que você ouviria o amplo desesperado, tudo ficaria melhor.

   Mas não vou sair desse simples aposento enquanto o mundo parecer tão assustador do lado de fora. Vou continuar mergulhando em meus pensamentos, procurando as respostas para as perguntas que eu nunca fiz... E quando eu encontrá-las, sairei de cima desses móveis empoeirados e  vou buscar pelos sorrisos, abraços e carícias que sempre foram meus, mas eu nunca tive.