Era uma
tarde de sexta-feira, vinte e um de setembro, o ar seco da primavera ainda
carregava o frio do inverno e sobrevoava as vielas de São Paulo. As vidas se
cruzam pelas ruas, olhos nos olhos, um leve desvio para a esquerda, adeus e até
nunca mais. Dessa forma acontece todos os dias, nessa cidade de faz de conta, o
afeto é sempre pré-selecionado, as risadas são diferenciadas por etnias,
carregadas de ideologias sem amor.
Naquela noite Vito Lenzi estava amargurado, tinha 22 anos, casou-se jovem e já enfrentava intrigas em seu relacionamento. Passou boa parte daquela tarde discutindo com sua esposa Raquel. Gritos foram ecoados pela redondeza, aquela velha maratona de ofensas repetidas. Como de costume os vizinhos estavam atentos, como sentinelas de plantão, afiando suas línguas para o dia seguinte. Perceberam quando Raquel saiu de casa, batendo a porta, limpando as lágrimas... Já Vito ficou largado no sofá velho e desbotado, imaginando mais uma noite de insanidade, pois ficaria longe de sua esposa e alimentaria cada gota de receio, devido ás promessas de Raquel de não voltar. Agora seus pesadelos estava há alguns passos tornar realidade.
Depois de uma hora amargurando os ponteiros do relógio, Vito pegou as chaves de seu Voyage 97. Ele havia adquirido o automóvel há pouco tempo de um amigo que lhe fez um precinho camarada, pois os documentos do automóvel estavam fora do prazo legal. Vito não se importava em correr os ricos, ultimamente sua própria mente era o risco que poderia correr. Girou a ignição e anunciou a partida do automóvel, como se fosse á última e seguiu pelo seu caminho. Guiou até uma travessa da esquina, relembrando pelo caminho quantos 'porres' já tomou pela aquela região, tantas e tantas pessoas já havia conhecido ali, outras foram esquecidas por ali também. Foram os autos e baixos de Vito, na melhor época de sua vida Boêmia. Após estacionar limpou levemente seu paletó surrado, com as mãos esfregou seus olhos, afim de revitalizar o abatimento de seu rosto. Caminhou observando as rachaduras pelo asfalto, foi até o bar de um velho amigo, que encontrava-se na esquina.
Ao adentrar avistou seu colega Pedro, proprietário daquele barzinho, já o recebeu todo sorridente. - Quanto tempo Vito, o que vai beber hoje? Vito devolveu o sorriso maquiando uma satisfação e pediu uma dose de doze anos cowboy. Aquilo era só o começo de uma luta sem fim. Álcool e angústias tomavam o corpo de Vito, por fora era o mesmo, por dentro uma verdadeira batalha de pensamentos devastadores, vontade de gritar existia, mas matinha o seu controle, para não incomodar os outros clientes.
Vito ascendia cigarros constantemente entre os goles de Wiskey. O maço de Marlboro já estava no fim, mas ele ficava contente em ver a variedade de cigarros que tinha para comprar a sua frente, lhe trazia um alívio saber que teria mais vinte amigos para tragar aquela noite. Cada tragada um gole de Wiskey acompanhava a procissão. Os pensamentos não fugiam nenhum minuto das cenas daquela tarde: sua mulher partindo chorando; os berros que ecoavam a casa; copos estilhaçados e depois um silêncio ensurdecedor. A situação não foi das mais agradáveis, não parecia que teria um final feliz, como nos filmes americanos que Vito costumava assistir.
Naquela noite Vito Lenzi estava amargurado, tinha 22 anos, casou-se jovem e já enfrentava intrigas em seu relacionamento. Passou boa parte daquela tarde discutindo com sua esposa Raquel. Gritos foram ecoados pela redondeza, aquela velha maratona de ofensas repetidas. Como de costume os vizinhos estavam atentos, como sentinelas de plantão, afiando suas línguas para o dia seguinte. Perceberam quando Raquel saiu de casa, batendo a porta, limpando as lágrimas... Já Vito ficou largado no sofá velho e desbotado, imaginando mais uma noite de insanidade, pois ficaria longe de sua esposa e alimentaria cada gota de receio, devido ás promessas de Raquel de não voltar. Agora seus pesadelos estava há alguns passos tornar realidade.
Depois de uma hora amargurando os ponteiros do relógio, Vito pegou as chaves de seu Voyage 97. Ele havia adquirido o automóvel há pouco tempo de um amigo que lhe fez um precinho camarada, pois os documentos do automóvel estavam fora do prazo legal. Vito não se importava em correr os ricos, ultimamente sua própria mente era o risco que poderia correr. Girou a ignição e anunciou a partida do automóvel, como se fosse á última e seguiu pelo seu caminho. Guiou até uma travessa da esquina, relembrando pelo caminho quantos 'porres' já tomou pela aquela região, tantas e tantas pessoas já havia conhecido ali, outras foram esquecidas por ali também. Foram os autos e baixos de Vito, na melhor época de sua vida Boêmia. Após estacionar limpou levemente seu paletó surrado, com as mãos esfregou seus olhos, afim de revitalizar o abatimento de seu rosto. Caminhou observando as rachaduras pelo asfalto, foi até o bar de um velho amigo, que encontrava-se na esquina.
Ao adentrar avistou seu colega Pedro, proprietário daquele barzinho, já o recebeu todo sorridente. - Quanto tempo Vito, o que vai beber hoje? Vito devolveu o sorriso maquiando uma satisfação e pediu uma dose de doze anos cowboy. Aquilo era só o começo de uma luta sem fim. Álcool e angústias tomavam o corpo de Vito, por fora era o mesmo, por dentro uma verdadeira batalha de pensamentos devastadores, vontade de gritar existia, mas matinha o seu controle, para não incomodar os outros clientes.
Vito ascendia cigarros constantemente entre os goles de Wiskey. O maço de Marlboro já estava no fim, mas ele ficava contente em ver a variedade de cigarros que tinha para comprar a sua frente, lhe trazia um alívio saber que teria mais vinte amigos para tragar aquela noite. Cada tragada um gole de Wiskey acompanhava a procissão. Os pensamentos não fugiam nenhum minuto das cenas daquela tarde: sua mulher partindo chorando; os berros que ecoavam a casa; copos estilhaçados e depois um silêncio ensurdecedor. A situação não foi das mais agradáveis, não parecia que teria um final feliz, como nos filmes americanos que Vito costumava assistir.
Passaram-se quatro horas de boas doses, Vito precisava partir, mas não sabia
exatamente para onde. Sabia que se voltasse para o sofá desbotado á solidão
iria sufocá-lo. Pagou a conta, despediu-se de Pedro que nem notará o sofrimento
de seu cliente, e saiu porta a fora. Caminhando até o carro viu que mesmo tarde
da noite, ainda tinha muito movimento pela rua, muitas pessoas cruzando seu
caminho. Ele observava cada uma, olhos nos olhos. Vito era um detalhista ao
extremo, estudou sociologia o que contribuía para seu olhar crítico e
intimidador para muitos...
Vito entra no carro, ainda um pouco zonzo e com o estômago fermentando. Todo o
álcool consumia seu corpo e refletia em sua mente, mas não fora suficiente
esquecer a dor. Ele pagou 10 reais para o flanelinha que ali estava vigiando
seu carro, mesmo que este não estava lá quando Vito chegou. Preço único, talvez
injusto pois seu carro estava em via pública, mas vito não tinha cabeça para
argumentar sobre valores naquele momento, economia não era mais um problema.
Ligou
o rádio afim de colocar uma música para relaxar. Tirou do seu case um álbum do
Rolling Stones e colocou a música "As Tears Go By', como se fosse a
ultima. A letra dizia tudo que ele precisava ouvir naquele instante: "O
dia está terminando, eu sento e observo as crianças brincarem. Rotos
sorridentes eu posso ver, mas não são para mim. Eu sento e observo as lágrimas
passarem". Ao som dos Stones começava um combate entre o bem e o mal na
sua consciência.
A ponteira de velocidade mostrava 70KM/H, tanque de gasolina apontava mais de
um terço. O centro de São Paulo estava sem trânsito, naquele horário tudo era
mais simples, sem buzinas, fumaças, caminhões e com sinais vermelhos, que eram
furados por motoristas embriagados. A sensação de liberdade ao volante fazia
com que prosseguisse seu embate.
Vito pegou seu celular e tentou ligar para Raquel, sua expectativa foi
desanimada quando ouviu o som da caixa postal. Ele já esperava por isso, mas
não custava tentar. Apertou o pé no acelerador para apreciar a velocidade. O
painel já marcava 90Km/h, ele estava entrando na Av. São João, nem notará a
placa que alertava o limite de 60KM. Vito pouco se importava, nem percebeu que
não havia colocado o cinto de segurança. Confiante como sempre, mostrava frieza
no volante. Mais a frente avistava o farol que brincava com as cores, do verde
ficará amarelo... Pensou em frear, mas estava em alta velocidade para fazer
isso. Sabia que iria conseguir, mas antes, cerca de 10 metros da faixa de
pedestre, o sinal já marcava o vermelho. Seu pé apertou o freio firmemente,
fazendo as pastilhas queimarem. Algo que não verá atravessou seu caminho. A
embreagem exalava o odor, o frio cobria São Paulo, o sentimento chegava ao fim,
na mente de Vito já não existia mais a intriga de algumas horas atrás. O
coração já não bombeava e o sangue fresco escorria pelo asfalto.
Agora Vito Lenzi estava
entrando em sua paz interior. Já não podia sentir raiva, nem transmitir ódio,
ou sequer expressar agonia. Agora ele estava em nirvana, estava a um passado de
uma emancipação interior. Em seus últimos suspiros percebeu que qualquer canto
da cidade pode ser palco para o fim da vida. Um espetáculo único, onde não existe
venda de ingressos e um dia todos nós seremos os atores principais.
Quinze
minutos após o acontecimento policiais e paramédicos já trabalhavam no local.
Concluiu que dois carros entraram em colisão. Provavelmente o condutor do
Voyage estava embriagado, pois marcas de freadas de pneus marcavam o trajeto do
carro de Vito. O motorista do outro carro foi levado com vida para o
hospital, em estado grave, mas sobreviveu pelo bem de sua família e de sua
mulher, que o ama tanto.
Naquela noite de setembro mais uma vida partia de São Paulo, como ficaria agora
a consciência de Raquel? Esta só ficou sabendo o que aconteceu com seu marido
no dia seguinte. Agora as lágrimas de agonia banhavam os olhos de Raquel. Uma
vontade eloquente de voltar no tempo já não era o suficiente. A vida mostrava a
sua verdadeira face, nua e crua, para a mais nova viúva. Tudo agora baseia-se em lágrimas. Cada suspiro e
pensamentos levam a dor do luto, que nunca mais será esquecida.
Agora ela só se culpa, com medo de perder o
que lhe sobrou. Ela preferia ter ficado naquela relação abusiva, pois ela sabe
que o melhor para a criança que está sendo gerada dentro dela, era crescer com mãe
e pai...
"Existem
coisas piores que estar sozinho, mas geralmente leva décadas para entender isso
e quase sempre você entende tarde demais. E não há nada pior que tarde demais".
- Charles Bukowski
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