quarta-feira, 2 de abril de 2014

Doces com liberdade

  Uma vez estava sentado em um banco de uma praça qualquer. Em minha frente às árvores balançavam e destilavam toda a beleza, acarretada pela brisa fresca que por ali passava. Pombos faziam um amontoado por restos de comida que estavam espalhados pelo chão, brigavam e por fim brincavam, sem raiva nem rancor daquele que conseguiu encher o papo primeiro. Um amontoado de casas na minha frente contemplava a paisagem, favelas, comunidades ou barracos de classe média, não sei bem dizer, é tudo muito desigual para um lugar só.

  De longe avistei uma garotinha vestida de rosa, aparentava aproximadamente oito anos, carregava consigo um sorriso e um olhar ousado. Ao lado dela sua suposta irmã, uma garota mais acanhada, que não deveria ter mais que seis anos de vida. Elas apareceram na porta de suas casas e começaram a cochichar algo... Fiquei observando para ver o que ocorria. Para minha surpresa, a garota de oito anos começou a andar pela calçada da avenida até a venda de doces no final da rua. A outra irmã estava mais afoita, temerosa, olhando aterradoramente, enquanto acompanhava com seu olhar a menina que buscava os doces. Aquela que caminhava estava sorridente, olhava para sua irmã que ficará no portão, receosa com a aventura, que provavelmente ficou com medo de acompanhá-la. Sim, sem margens de dúvidas, os pais daquelas garotinhas não estavam em casa, como são muito novas, costumam ficar trancadas dentro de suas paredes, brincando com bonecas e sem saber o que existia no mundo por fora do portão. Mas uma delas foi ousada e tomou coragem para buscar os doces. Sim, aquele simples gesto de coragem, apesar do medo da outra irmã, mostrou através do sorriso daquela criança, que ela sentia pela primeira vez o gosto da LIBERDADE. A jovem debutava o direito de ser livre pela primeira vez, e por sentir-se livre, não esquecerá o medo de ser descoberta a qualquer momento pelos seus pais. Mas esse é o preço que pagava, pois aquele momento é único e perigoso por natureza própria. 

Assim como em uma aventura até a vendinha de doces, ou sobre a exploração de uma Ditadura Militar, desejamos a liberdade incondicional, mas sempre estaremos com medo. Pois a qualquer momento, a vanguarda poderá pegar-nos, nos tacaram no inferno, seja dentro de um banheiro ou em encima de pau de arará... Mas nunca deixaremos de sentir o desejo e a euforia por estarmos há um passo e ao mesmo tempo tão distante da liberdade.


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