sábado, 29 de outubro de 2016

sobre oito paredes

Queria só por um momento me soltar dessas cordas,
para que nas próximas noites que eu frequentar os lugares que nós já frequentamos em outras épocas,
eu não tenha que ascender um cigarro e pensar em algo aleatório,
só para fugir da tristeza de saber,
que nunca mais encontrarei teu corpo neste lugar.
E eu só queria também,
por um instante ou pra sempre, esquecer tudo que vivemos
pois ter vivido aquilo foi realmente bom e saber que acabou não me deixa mais feliz.
logo se eu não tivesse vivido, poderia quem sabe, estar bem melhor agora
mesmo sem saber das inúmeras felicidades, que eu deixaria de viver sem ter tido você.

E de certa forma também, eu gostaria que você soubesse o quanto foi ruim ocupar os quartos que visitamos tantas vezes, mas que culpa eu tenho, se lhe trouxe para minha casa?
Então creio que dessa forma, estou fadado ao eterno sofrimento (...)
Essa prisão sem muros que eu mesmo construí.
Talvez a única saída seja hipotecar meus cômodos e colocar o pé na estrada e fugir logo daqui,
enquanto ainda existe um tempo,
do qual eu poderei seguir uma vida renovada,
e menos pesada,
sabendo que suas lembranças vão ficar quilômetros longe de mim.
E quem sabe eu tenha minha vida de volta em outro lugar.
E que esse sequestro pessoal me deixe por fim respirar
enquanto o seu nome insiste em me sufocar
E que eu deixe de vez essa maldita mania de me sentir culpado e desprotegido,
Só para ter algo que me deixe fragilizado e esperando por alguma salvação todos os dias.  



quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Uma noite dessas o telefone tocou, era ela me dizendo  que eu deveria continuar o que eu estava fazendo. Que os caminhos que eu estava trilhando me levaria a um lugar melhor. Um lugar onde eu pudesse encontrar o que eu procuro, mesmo que cada passo que eu desse, me distanciasse do passado. Eu parei, esperei um momento, tentei formular uma reposta sem emoção mas não respondi exatamente o que eu gostaria. Apenas consenti com a cabeça, então curvei meu corpo sobre a comoda e desliguei o telefone. Minhas costas doíam, meus olhos estava cansados, minha alma me observava de longe com um receio enorme de chegar mais perto de mim. Caminhei até o banheiro, lavei o rosto, verifiquei se o ralo do banheiro estava coberto, não estava. Então cobri o ralo  e fui até a cozinha, peguei um copo de água gelada, tomei de uma só vez. A casa estava em silêncio, o silêncio trazia consigo a solidão e a solidão carregava uma tremenda tristeza, que por onde andei, tentei me desfazer. Pobre de mim, tentei combater um mundo muito maior do que eu podia enfrentar. Invejo as pessoas que conseguem enfrentar o mundo da forma que ele realmente é. Quero dizer, pessoas de verdade, não aquelas que fazem de conta que são, aquilo que disseram que elas são. Se eu chegar próximo aquela janela, terei uma visão ampla, de várias luzes acesas nessa noite, de várias famílias, sendo famílias, mas somente famílias, que não tem nada além disso para ser. Começou a chover, vou finalmente até a janela, abro, deixo que a chuva respalde meu rosto e que seu barulho, contemple o silêncio desse quarto. Assim, ocupo meus pensamentos, pois gosto do som da chuva e de certa forma, ela me deixa bem, ao menos, bem melhor do que eu estive, por todos esses anos de sol ardente. Por um momento pensei em chorar, mas não achei que deveria, pois as pessoas não devem chorar quando se sentem sozinhas, pois essa é a única certeza da vida; a forma que chegamos e a forma que vamos embora. E toda essa luta, está fadada a um fim, que ainda é desconhecido; Assim como os planetas ocultos em nosso sistema solar; assim como quantas formigas estão trabalhando agora, debaixo de nossos pés; assim como quantas vezes mais poderei subir até o ponto mais alto dessa cidade, e olhar vocês lá de cima, sem o medo de sumir e nunca mais voltar.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Como um poema pode morrer


Os poemas estão escritos em todos os lugares. Se você prestar bem atenção, encontra-rá poemas nas paredes das prisões, nos banheiros de bar, nas poças de lama e nos rostos de cada pessoa. Poemas são como átomos, positivamente carregados de energia, que se espalham pela cidade e contemplam as sensações boas, ruins e intensas. Todos nós fazemos parte de um poema no final de nossas vidas. Linhas bem escritas com amor e lágrimas singelas fazem parte de nosso contexto. Mas existem pessoas que exalam poemas só na beleza do olhar. Porém existe um perigo nisso tudo. Nós nos apaixonamos por olhares e nesse mesmo fascínio normalmente a paixão morre, quando as primeiras palavras são ditas. Quero dizer, quando as pessoas mostram quem realmente são, os poemas não resistem e então aquele bom poema também padece. Morre similarmente como a neblina de todas as manhãs, que ao se encontrar com o sol, desaparece na primeira luz de realidade.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

E você espera por tanto tempo que já não lembra mais o porque

E o tempo, vai te fazendo esperar
um ano para concluir a faculdade,
o ensino médio e o ensino da alma.
Mais um ano para suas férias
para o seu descanso e para seu sossego...
mais um ano no aguardo, para sua paz
complemento do seu ser, o seu amor.
E você espera tanto que não lembra mais o porque tanto espera.
E as coisas ruins começam a acontecer
Um copo se espatifa no chão as 9 da manhã,
o maldito celular cai dentro da privada,
seu carro pifa no meio da estrada,
seu dinheiro no banco é extraviado para o bolso dos banqueiros todo mês.
Seu cachorro está doente,
Seus amigos estão longes,
e você começa a se perguntar para onde foi todo mundo.
Seu rosto parece mais velho cada vez que reflete no espelho,
seu hálito está ruim há meses,
Seus olhos inchados. Mas você precisa esperar,
porque se não esperar, perderá o seu objetivo em vida.
Objetivo? que diabos é o objetivo?
O mesmo que te faz esperar o dia todo, só para ouvir a música que vai te levar para outro lugar.