sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Quando as pessoas encontram uma maneira de não enlouquecer

Apesar de eu ser um fumante e de beber sempre que posso, procuro manter o equilíbrio com corridas no fim do dia. Depois de 12 horas desgastante do que chamamos horário comercial, depois de clientes histéricos me xingando por não ter entregue os livros de acordo com a última previsão, depois de brigas setoriais, comida fria, café sem açúcar e trânsito, eu ainda tento manter a sanidade e corro, corro porque gosto de ver a lua entre as nuvens, porque gosto de sentir o vento batendo em meu rosto e a sensação do suor escorrendo em pelo meu peito. E eu sempre faço o mesmo caminho até o lugar onde costumo correr, caminho do qual passo sempre pela frente de um bar de esquina, cheio de pessoas de mais idade, que estão ali, tragando seus cigarros, as vezes silenciosas, as vezes Grupo de textos!conversando timidamente, mas estão por lá todos os dias. Um deles em especial me chama a atenção, sujeito alto de cabelos brancos, rosto inchado, trajando uma roupa social e sapatos gastos de cor marrom. Ele sempre está lá, quando eu vou e quando eu volto, sempre o observo. A garrafa de cerveja habitualmente fica a sua frente, e por vezes um cigarro em sua mão. As vezes vejo a tristeza em seu rosto, ele quase nunca ri, sujeito sério, que fica ali na porta, ou sentado no pequeno espaço de dentro do bar.



Ele age como uma pessoa que vive sozinha, e que de certa maneira encontrou uma maneira especial de tocar sua vida. Talvez ele tenha sido casado, talvez sua esposa o largou, o trocou ou morreu. Talvez ele tenha tido filhos ou talvez não. Ele estava ali, ele é mais um entre nós, que tenta, sobreviver mais um dia comercial, e que não se importa mais com horário, ou com a violência, ou com a hora que vai começar o jogo de futebol, pois quando ele chegar em casa, estará de frente com sua solidão, de frente com tudo aquilo que ele tenta abandonar, todas as vezes que está naquele bar. Eu o vejo, o percebo, e ele nunca vai saber que eu escrevi esse poema para ele e aqui o eternizo de certa maneira. Pois eu o vi com meus olhos, e observei seu jeito, de como alguém pode encontrar uma maneira de não enlouquecer.



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