Apesar de eu ser um
fumante e de beber sempre que posso, procuro manter o equilíbrio com
corridas no fim do dia. Depois de 12 horas desgastante do que
chamamos horário comercial, depois de clientes histéricos me
xingando por não ter entregue os livros de acordo com a última
previsão, depois de brigas setoriais, comida fria, café sem açúcar
e trânsito, eu ainda tento manter a sanidade e corro, corro porque
gosto de ver a lua entre as nuvens, porque gosto de sentir o vento
batendo em meu rosto e a sensação do suor escorrendo em pelo meu
peito. E eu sempre faço o mesmo caminho até o lugar onde costumo
correr, caminho do qual passo sempre pela frente de um bar de
esquina, cheio de pessoas de mais idade, que estão ali, tragando
seus cigarros, as vezes silenciosas, as vezes Grupo de
textos!conversando timidamente, mas estão por lá todos os dias. Um
deles em especial me chama a atenção, sujeito alto de cabelos
brancos, rosto inchado, trajando uma roupa social e sapatos gastos de
cor marrom. Ele sempre está lá, quando eu vou e quando eu volto,
sempre o observo. A garrafa de cerveja habitualmente fica a sua
frente, e por vezes um cigarro em sua mão. As vezes vejo a tristeza
em seu rosto, ele quase nunca ri, sujeito sério, que fica ali na
porta, ou sentado no pequeno espaço de dentro do bar.
Ele age como uma pessoa
que vive sozinha, e que de certa maneira encontrou uma maneira
especial de tocar sua vida. Talvez ele tenha sido casado, talvez sua
esposa o largou, o trocou ou morreu. Talvez ele tenha tido filhos ou
talvez não. Ele estava ali, ele é mais um entre nós, que tenta,
sobreviver mais um dia comercial, e que não se importa mais com
horário, ou com a violência, ou com a hora que vai começar o jogo
de futebol, pois quando ele chegar em casa, estará de frente com
sua solidão, de frente com tudo aquilo que ele tenta abandonar,
todas as vezes que está naquele bar. Eu o vejo, o percebo, e ele
nunca vai saber que eu escrevi esse poema para ele e aqui o eternizo
de certa maneira. Pois eu o vi com meus olhos, e observei seu jeito,
de como alguém pode encontrar uma maneira de não enlouquecer.
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