um dia sem muito vento
um dia, sem muita vida
gosto normal, é sabor de nada
me canso rápido e então vou pra casa.
Quando chego encontro um som peculiar vindo da sala,
era minha mãe ouvindo as músicas de sua juventude
quando adentrei percebi que ela chorava de soluçar.
Acredito que não esperava que eu chegasse tão cedo em casa
a peguei desprevenida, me senti desprevenido também.
a música que ela ouvia eu também escutei por quase toda minha infância
sua influência, também era minha influência.
ela lamentava-se por meu pai
e por todos os amores que deixará ir durante seus melhores anos.
e agora tudo se foi
e então restava-lhe lágrimas e ressentimentos.
Eu não podia fazer muita coisa a não ser encostar minha cabeça em seu ombro e deixar tudo debulhar.
era triste e eu senti.
a vida das pessoas são tristes
elas chegam em determinada época que sentem-se desarmadas
seus amores se foram
sua beleza se foi
sua vontade de viver
também se foi.
E tudo agora parece com uma espécia de monstro em nossa frente,
quando nos damos conta que o tempo passa
que o relógio não para
e que nãos sabemos mais se estamos ganhando ou perdendo o jogo da vida.
sofri junto a minha mãe
de certa forma, me sinto como ela
pobre poeta desarmado
sem rumo
sem vida, sem o que acreditar
sem um olhar para olhar.
sem uma boca pra beijar
e se você se acha suficiente forte para dizer que tudo isso é uma fraqueza
saiba qualquer ser humano pode chorar
e a lágrima é virtude da vivência
de desejo e falência do ser
e dói no meu peito ver alguém chorar
principalmente um alguém que me trouxe até aqui via um cordão umbilical
pra um dia escrever esse poema
da qual deixarei eternizado
em algum lugar, em qualquer canto
mais um grito abafado
de todo esse tempo.