Eu
estava lá, em um canto escuro, apreciando uma boa dose de uísque e
observando a arquitetura daquele lugar. Tinha bandeiras de todos os
países, generais por todos os cantos, o ar bélico em formato de bar
impressionava. Enquanto observava o recinto tentava automaticamente
achar uma válvula de escape para mim, ou uma resposta para todas as
minhas perguntas, até mesmo para aquelas que ainda não fiz. Ao
redor tinha muita gente, era um sábado, as pessoas normalmente saem
de suas tocas e do aconchego de sua rotina para se divertirem. Mesmo
assim sentia que aquele lugar estava solitário. Às vezes a maioria
não representa nada e naquele momento era literalmente o caso.
Apesar de sinuosa visão eu também não estava tão só assim, tinha mais um monte de derrotados bebendo ao meu lado, todos com feições sorumbáticas em seus rotos e alguns até mesmo estavam lustrando bombas e ninguém ali se importava com isso. Eles esperavam desesperadamente para que entrasse uma mulher por aquela porta e salvasse de uma vez por todas vossas malditas noites angustiadas, para quem sabe, depois de alguns dias, fossem lançados de volta ao mesmo abismo em que se encontravam, ao mesmo bar, a mesma bebida e a mesma sensação de derrota complacente de um indivíduo solitário.
Depois de alguns instantes de ouço vozes alteradas atrás de mim, era outro casal, estavam discutindo. Não entendi muito bem, mas notei que tinha algo haver com dinheiro. As ofensas aumentavam e chamavam atenção de todos os presentes. Creio que somente eu percebi que era o oposto do casal ao meu lado, que parecia nem ligar para o palavreado inoportuno da mesa ao lado, continuavam agarrados, conversando baixinho e com olhos cintilantes um para o outro, como se estivessem completamente sozinhos. Ali existia um começo e atrás de mim um fim. Essa é uma vida ordinária. Dessa vez ao menos eu não fazia papel de protagonista ou vilão e ficava feliz por isso, ali eu era um mero telespectador com o copo meio vazio que observava a continuidade natural das coisas, mas sem conseguir ajudar ninguém, muito menos salvar eu mesmo do delírio que sentia.
Pagou
a conta e cambaleou até o carro com o copo em mãos, foi
vagarosamente dirigindo até sua casa. Encontrou sua cama, se jogou e
depois de muito tempo pegou no sono e adormeceu. Depois de muitas
tentativas e noites se dormir a derrota da noite anterior lhe trouxe
a paz, pois finalmente percebeu que já não tinha mais nada que
pudesse fazer.
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