Era segunda-feira, eu acordei, tomei
um banho, escovei os dentes, tirei alguns pelos do meu nariz, arrumei
o cabelo e fiquei por um tempo observando meu rosto, já abatido com
o tempo. Sem titubear por muito tempo, prossegui até o trabalho, era
a mesma procissão, ônibus cheio e as mesmas pessoas de sempre. Nós
já nos conhecíamos sem ao menos ter trocado uma palavra e se um
deles não estivesse dentro naquele ônibus, de certa forma sentíamos
sua falta.
O dia de trabalho foi o mesmo, reclamações é o não faltavam, as
vozes acumulavam em nossas cabeças e aquilo nos desgastava tanto,
que mesmo sem fazer muitos esforços físicos, ficávamos esgotados
no final do dia. Na hora de ir embora, estava chovendo e parte da rua
estava alagada, transformando o trânsito em um verdadeiro caos. Eu
já estava acostumado e sabia que não adiantaria ficar esperando o
ônibus, pois todos estariam lotados de qualquer maneira e só fariam
com que chegássemos em casa estressados, brigássemos com nossa
família ou nossos amados. Resolvi então entrar no primeiro bar que
encontrei pelo caminho, pedi uma cerveja e ascendi um cigarro, a vida
estava nos desgastando e todos nós já sabíamos disso de certa
forma.
Coloquei os fones de ouvido e deixei na primeira estação que estava
tocando rock, depois de alguns minutos começou a tocar músicas que
me levaram para uma outra época, um outro lugar, que eu realmente
gostaria de voltar ou ao menos visitar se fosse possível. Me lembrei
perfeitamente dos meus 12 aos 16 anos, onde eu não tinha muito mais
o que fazer a não ser comparecer a escola e ver meus amigos na parte
da tarde. Nós íamos para o colégio e fazíamos o básico, se
tínhamos que tirar nota seis para passar na prova, era a nota seis
que iriamos tirar. Era o mínimo que pediam para nós, e era o máximo
que conseguíamos fazer. Quando chegávamos em casa, descansávamos
um pouco e na parte da tarde íamos até a casa do Luan, para
tecnicamente não fazer nada. Eramos adolescentes fracassados no arte
do amor, não conseguíamos chegar e conversar com uma menina, sem
que ficássemos envergonhados ou passássemos por algum tipo de
constrangimento, e isso sempre acontecia e era o motivo de muitas
risadas no fim da tarde. Não bebíamos, não fumávamos, nem
usávamos algum tipo de drogas, eramos felizes sem precisar de nada
disso e eu realmente agradeço por isso. Ficamos boa parte do dia
ouvindo Blink 182 e SUM 41, bandas que representavam bem a época e o
momento que vivíamos. De certa forma nós precisávamos um do outro
e realmente nós nos amávamos, de uma maneira bem coloquial, mesmo
sem percebermos ou admitirmos isso naquela época.
As coisas tiveram que continuar, pensávamos que aquilo duraria para
sempre, mas sabíamos que de certa forma teria um fim e foi aos
poucos; ninguém foi embora, ninguém teve que se mudar, ninguém se
casou. Aos poucos cada um tomou o seu rumo, cada um criou seus
deuses, cada um poliu seus dogmas e ideias, e esse foi um grande
problema, mas inevitável, as pessoas se desprendem delas mesmas.
Alguns ainda continuam por ai, outros tiveram que ir embora por não
compactuarem das mesmas ambições. Alguns se tornaram viciados e
alcoólatras, alguns se decepcionaram com o amor, alguns caíram na
realidade da vida e outros continuam sonhando, como se o tempo
tivesse parado nesse juventude. Independente do que venha acontecer
nas próxima décadas, posso dizer que tive momentos inesquecíveis
com cada um deles, do qual lembrarei sempre que tocar uma música em
especial, ou acontecer algo que inevitavelmente remeta a aquela
época, com aconteceu ali, enquanto eu batia as cinzas do cigarro e
tomava mais um gole da cerveja e a música transbordava em meus
ouvidos. O trânsito permaneceu parado e eu sabia que eu ficaria ali
pelas próximas horas, esperando com que o tempo voltasse, mas ele
nunca volta.
Esse texto é uma dedicação especial para Adílio Alves, Milton
Gonçalves, Diego Rivera, Luan Rivera, Felipe Gonçalves e Nivaldo
Coelho. Que a vida continue leve e pura, independente de suas
turbulências, como fora nos melhores anos de nossas vidas.
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