quarta-feira, 2 de março de 2016

Conta Comigo

Era segunda-feira, eu acordei, tomei um banho, escovei os dentes, tirei alguns pelos do meu nariz, arrumei o cabelo e fiquei por um tempo observando meu rosto, já abatido com o tempo. Sem titubear por muito tempo, prossegui até o trabalho, era a mesma procissão, ônibus cheio e as mesmas pessoas de sempre. Nós já nos conhecíamos sem ao menos ter trocado uma palavra e se um deles não estivesse dentro naquele ônibus, de certa forma sentíamos sua falta.

O dia de trabalho foi o mesmo, reclamações é o não faltavam, as vozes acumulavam em nossas cabeças e aquilo nos desgastava tanto, que mesmo sem fazer muitos esforços físicos, ficávamos esgotados no final do dia. Na hora de ir embora, estava chovendo e parte da rua estava alagada, transformando o trânsito em um verdadeiro caos. Eu já estava acostumado e sabia que não adiantaria ficar esperando o ônibus, pois todos estariam lotados de qualquer maneira e só fariam com que chegássemos em casa estressados, brigássemos com nossa família ou nossos amados. Resolvi então entrar no primeiro bar que encontrei pelo caminho, pedi uma cerveja e ascendi um cigarro, a vida estava nos desgastando e todos nós já sabíamos disso de certa forma.

Coloquei os fones de ouvido e deixei na primeira estação que estava tocando rock, depois de alguns minutos começou a tocar músicas que me levaram para uma outra época, um outro lugar, que eu realmente gostaria de voltar ou ao menos visitar se fosse possível. Me lembrei perfeitamente dos meus 12 aos 16 anos, onde eu não tinha muito mais o que fazer a não ser comparecer a escola e ver meus amigos na parte da tarde. Nós íamos para o colégio e fazíamos o básico, se tínhamos que tirar nota seis para passar na prova, era a nota seis que iriamos tirar. Era o mínimo que pediam para nós, e era o máximo que conseguíamos fazer. Quando chegávamos em casa, descansávamos um pouco e na parte da tarde íamos até a casa do Luan, para tecnicamente não fazer nada. Eramos adolescentes fracassados no arte do amor, não conseguíamos chegar e conversar com uma menina, sem que ficássemos envergonhados ou passássemos por algum tipo de constrangimento, e isso sempre acontecia e era o motivo de muitas risadas no fim da tarde. Não bebíamos, não fumávamos, nem usávamos algum tipo de drogas, eramos felizes sem precisar de nada disso e eu realmente agradeço por isso. Ficamos boa parte do dia ouvindo Blink 182 e SUM 41, bandas que representavam bem a época e o momento que vivíamos. De certa forma nós precisávamos um do outro e realmente nós nos amávamos, de uma maneira bem coloquial, mesmo sem percebermos ou admitirmos isso naquela época.

As coisas tiveram que continuar, pensávamos que aquilo duraria para sempre, mas sabíamos que de certa forma teria um fim e foi aos poucos; ninguém foi embora, ninguém teve que se mudar, ninguém se casou. Aos poucos cada um tomou o seu rumo, cada um criou seus deuses, cada um poliu seus dogmas e ideias, e esse foi um grande problema, mas inevitável, as pessoas se desprendem delas mesmas.

Alguns ainda continuam por ai, outros tiveram que ir embora por não compactuarem das mesmas ambições. Alguns se tornaram viciados e alcoólatras, alguns se decepcionaram com o amor, alguns caíram na realidade da vida e outros continuam sonhando, como se o tempo tivesse parado nesse juventude. Independente do que venha acontecer nas próxima décadas, posso dizer que tive momentos inesquecíveis com cada um deles, do qual lembrarei sempre que tocar uma música em especial, ou acontecer algo que inevitavelmente remeta a aquela época, com aconteceu ali, enquanto eu batia as cinzas do cigarro e tomava mais um gole da cerveja e a música transbordava em meus ouvidos. O trânsito permaneceu parado e eu sabia que eu ficaria ali pelas próximas horas, esperando com que o tempo voltasse, mas ele nunca volta.




Esse texto é uma dedicação especial para Adílio Alves, Milton Gonçalves, Diego Rivera, Luan Rivera, Felipe Gonçalves e Nivaldo Coelho. Que a vida continue leve e pura, independente de suas turbulências, como fora nos melhores anos de nossas vidas.




 

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