segunda-feira, 25 de abril de 2016

Um terço dessa pena

As pessoas conseguem tornar o mundo algo desinteressante, 
Vocês conseguem aguçar egos, mesmo quando não há valor algum,
vocês gostam do mostrar 'amor próprio', mas espalham o narcisismo.
vocês procuram pessoas para amar, mas vocês ainda não sabem amar.
vocês despedaçaram as vidas de outras pessoas, tentando trazer algo só para vocês.


E todas essas luzes de carros nas avenidas,
e todos esses letreiros das lojas no centro,
e todas essas caixas de sapatos,
Esses cabelereiros,
Essas músicas ruins.
Essas danças ruins.
Essas modas inúteis,
que vão perder o seu valor amanhã,
quanto tudo isso for taxado de ultrapassado, por alguém
que vocês
sequer conhecem,
mas que determina
o que será de sua vida na próxima estação, todos os anos.


Os fast food's, vendendo comida ruim,
e os atendentes mal-humorados,
Os dedos que digitam, 
os celulares e a falta de atenção.
os cinemas transmitindo filmes horríveis,
e vocês
exigindo tão pouco desses cineastras. Basta,
alguns efeitos especiais 
e vocês acham
que assistiram ao melhor filme do mundo,
vocês nunca vão ver o melhor,
pois quando esse for passado para vocês, 
vocês não vão achar que é o melhor,
pois não será semelhante
a todos esses os filmes que vocês amam.


E os vendedores que tentam ganhar um pouco em cima,
E os policiais que aplicam multas sem necessidade,
As pessoas que fazem piadas maldosas,
Vocês estão apodrecendo esse mundo.
vocês estão se limitando,
vocês estão desperdiçando o pouco que sobrou.


E os amantes que se perdem, perdendo seus amores,
que já estavam perdidos, desde o começo.
Também estão
apodrecendo.

E há mais de sete décadas, 
Hemingway deitava-se toda a noite com a mulher que amava, 
e de tanto amá-la, 
nunca conseguiu fazer sexo com ela. 



domingo, 10 de abril de 2016

Nos últimos meses eu tive um crise de tosse séria, fui ao farmacêutico e ele me receitou um xarope que não melhorou em nada, então fui ao médico e ele não detectou nada de anormal comigo. Me senti perdido naquele momento, o médico então receitou mais remédios que acabou por amenizar mas não curar o meu problema. Por um instante coloquei-me no lugar de alguém que tem uma doença incurável, você tenta e tenta, mas só consegue amenizar as consequências daquilo que te mata aos poucos. Lutar contra algo sem ter a perspectiva de sucesso é uma coisa horrível. Se a vida foi feito para vencermos as dificuldades, qual seria o seu sentido se já tivéssemos nossa derrota traçada?

Em meio a esse indagamento prossegui pelos dias e as crises de tosse continuavam e as pessoas próximas a mim diziam – Você tem que parar de fumar, isso está te matando – Por um minuto pensei em pedir mais algumas dicas para essas pessoas saudáveis, no outro minuto eu resolvi permanecer calado, mas eu sabia que elas não estavam tão saudáveis assim. Elas se sentiam mais vivas e saudáveis ao me ver mal daquela forma. É como se elas fossem sobreviver ao tempo e as doenças, a gordura que está sendo injetada em seus corações todos os dias, a insônia e suas crises depressivas recheadas de anfetaminas para conceder uma sensação de felicidade, ao câncer que brota dos fertilizantes, ao ódio que nasce das pessoas.

Por um momento eu me coloquei ao lado delas e elas no meu. Elas se sentiam bem por não ser eu, e eu muito bem por não ser elas.


sexta-feira, 1 de abril de 2016

A ligação mais importante da cidade

Um telefone sobre a cômoda empoeirada começa a tocar. Ele se levanta, caminha com certa dificuldade e atende:

— Alô,
 — Oi,
 — E ai, está melhor?
 — Não, ela me ligou agora, dizendo que já não me aguenta mais.
      ( um silêncio)...
 — É complicado, e o que você fez?
 — Disse que compreendia, fiquei quieto e ela desligou o telefone.
      ( ... )
 — Eu ainda me lembro quando você à conheceu, você chegou a me dizer que nunca havia sentido algo assim. Eu achei que tinham tudo haver, todos diziam que vocês se davam bem.
 — Eu não consigo entender também, tínhamos tantas coisas em comum, agora estou perdido.
 — Aguente firme, as vezes não existe razões,
 — Estou sem rumo agora, não sei como vou viver.
 — As pessoas só se encontram quando perdem seus rumos por algum tempo.
 — Mas quanto tempo isso pode demorar?
 — Se perdeste o seu rumo verdadeiramente, pode demorar meses ou até anos,
      ( outro silêncio )
 — Acho que preciso ir a um psicólogo,
 — Eles não vão te curar, eles lhe deixam melhor por um tempo, mas não vão te curar, se não você não volta mais lá.
 — Deve ser por isso que as pessoas fazem centenas de sessões com as pessoas,
 — E certamente ganham muito com isso.
 — Então o que eu faço?
 — Aguente firme,
 — Como?
 — Sai dai agora, essas paredes vão engolir você, não está vendo que pensa nela toda vez que fica ai sentado?
 — Acho que tem razão, mas para onde eu vou?
 —  Você pode ir para qualquer lugar dessa cidade, aqui tem de tudo, desde igrejas até as boates, vá para onde se sentir melhor.
 —  Acho que não devo ir para boate.
 —  Também acho que não deve.
 —  Talvez um bar?
 —  Não é uma má ideia, talvez encontre alguém para conversar, os balconistas sempre estão dispostos há lhe ouvir.
 —  Porque não vem comigo?
 —  Não posso.
 —  Mas porque?
 —  Você está desesperado, você me ligou e eu já disse o que tem que ser feito, agora depende de você. Não posso lhe dar os ombros para sempre.
 —  Tem razão, obrigado por me ouvir.
 —  Todo mundo precisa de alguém em um momento de desespero, você não é o único a perder o norte nessa cidade, posso ouvir daqui os corações chorando.
 —  Corações foram feitos para chorar?
 —  Não,  corações são feitos para jorrar sangue, quando mais sangue é jorrado, mais vivo você está.

A ligação caiu.

Ele não soube se foi um corte na linha ou se o telefone foi desligado propositadamente. Não importava, ele não retornaria a ligação. Então se levantou, sacou seu casaco, colocou o chapéu e ascendeu um cigarro. Desceu as escadas, olhou para o porteiro do seu prédio, era o mesmo, trabalhava ali há 15 anos, parecia que sempre estava com a mesma cara.
Acenou com a cabeço,
em um ato como se tudo estive bem.
Deu sinal para um ônibus, mas não viu qual era o seu destino,
Isso era uma coisa que já não importava mais.