quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Revivescer

Como vocês podem fazer isso com a gente?
adestraram a gente em redes sociais,
fizeram a gente consumir suas propagandas
fizeram a gente engolir as opiniões alheias,
fizeram a gente discutir sem razão
fizeram a gente ver o que não quer ver.
e pior
Trouxeram para nós as lembranças,
as malditas lembranças
para fazer-nos lembrar diariamente
e nos debater, diariamente
e chorar, diariamente,
por tudo aquilo que a gente perdeu
e por todas as vidas,
que deixamos de viver. 

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Deixe aberto estes buracos em sua parede

Fiquei imaginando como seria o mundo sem o amor
e também pensando no amor sem o mundo.
Quero dizer...
fiquei  conjeturando essa sabotagem que cometemos contra nós mesmos;
e acho que depois que sofremos algumas decepções amorosas,
acabamos criando uma autoproteção dentro de nós, digamos uma certa resistência ao amor por causa nobre e própria.

A resistência é gerada pelas frustrações antepassadas e acaba compactando todo o sentimento e assim, vedamos a porta de nossa casa para o acaso. Depois de um certo tempo, acho que o amor não pode mais ser gerado através da  primeira vista, como aconteceu algumas vezes na nossa infância.

Aquele encontro casual que as vezes marcamos, aquela ação sem sentimento, que parece que vai pular do nada para lugar nenhum e por vezes, deixa a mesa do bar silenciosa entre os olhares perdidos gerados pela falta de nosso interesse. Muitas vezes esses encontros pulam mesmo, do nada para lugar nenhum, mas é somente nessas tentativas que podemos evitarmos nossa própria sabotagem.


Somente comprando mais uma ficha, podemos tentar ganhar mais uma vez o nosso jogo.

Perto de mim tinha um livro de Max Weber e dizia logo nas primeiras páginas, "Às vezes, nossa vida é colocada de cabeça para baixo, para que possamos aprender a viver de cabeça para cima".

É isso que sobrou pra mim,
É isso que sobrará para leitor.
Abra aqui,
esse seu peito para o acaso,
antes que esse descaso acabe com seu peito.

O Semeador de Estrelas, localizada em Kaunas, Lituânia




domingo, 11 de setembro de 2016

A troca dos ponteiros da vida, regado ao vinho tinto

Era mais um dia de trabalho, onde a labuta me consumiu até o último instante. Sexta feira e uma enorme lua tomava conta da cidade e as pessoas já tomavam seus acentos nos bares, para dar ao garçom e o balconista, sua ocupação social. Eu estava sozinho, resolvi voltar andando para casa pois todos os ônibus pareciam lotados, pelo  caminho entrei em um posto comprei uma garrafa de cerveja e deixei que as estrelas conversassem comigo. Então meu telefone tocou, era Lúcia.

— Olá, quanto tempo não te vejo, estou perto de sua casa hoje, vamos fazer algo? estou com saudades de você.
— Claro Lúcia, podemos nos encontrar às 9, pode ser?
— Sim, eu apareço por lá.

Apertei o passo, para tentar encurtar o tempo. Lúcia é uma pessoa que conheço há muito tempo,costuma andar sozinha, como eu e não é a toa que ela me procurou, devia estar agoniada e precisava de alguém, por um momento apenas, que lhe cedesse um abraço e um ouvido. As pessoas hoje em dia não tem mais tempo para ouvir as outras pessoas, quanto mais um abraço sincero.

Nós saímos, conversamos e bebemos muito, era uma boa companhia e era uma noite agradável. Na volta, cheguei próximo a sua porta e quando ia me despedir:

— Porque não entra? Tenho uma garrafa de vinho chileno guardada, gostaria de dividi-la com você.
Com um sorriso contemplei sua ideia, tranquei o carro e entrei em sua casa.

 Logo na entrada pude ver um grande quadro, que mostrava uma paisagem do campo, junto a um telefone antigo e um retrato de família, que juntos deveriam servir de enfeite para casa. Pelo corredor havia um mancebo bem feito, que dava ao lar uma tonalidade antiga. Ao passar pela sala encontrei com uma outra mulher, eu a cumprimentei, chamava-se Júlia e eu nunca há vi antes, mas sua afeição era estranha, tinha olheiras enormes e parecia acuada, tímida, não queria falar muito. Depois da devida apresentação, segui Lúcia até a cozinha.

— Quem é ela?
— Minha irmã.
— Ela não parece bem,
— Realmente não está, ela tinha um namorado, que trocou ela por outra mulher.
— Faz muito tempo? Questionei.
— Quase um ano, ela ainda não se recuperou. Toma vários remédios e só sai de casa para ir ao psicólogo uma vez por semana.
— Mas ela ainda é jovem não? disse tentando alcançar uma alternativa justificável de recuperação.
— Creio que o amor não escolhe idades para matar.
— Tem razão, mas ela toma vinho também, podemos tentar socializar ela?
— Melhor não, você é um estranho aqui, não sei como ela assemelharia sua presença;
Compreendi a imposição caladamente.

Fomos para o quarto de Lúcia, tomamos toda a garrafa, estava bom ali, mas nada me fez esquecer, aqueles olhos embotados de inchaço, do qual sua irmã Júlia me apontou. Por um instante me encontrei naquele olhar, por um longo tempo, desesperei-me como ela. Gostaria de ajudá-la, mas ninguém que tentou me ajudar conseguiu.

 A vida se tornar voraz, as pessoas se tornam vorazes, e tudo se
desvanece, junto com o vinho tinto, o sangue e o amor. Todos nós, estamos constantemente brincando com os sentimentos de outras pessoas, seja direta ou indiretamente, por comentários a terceiros ou por um julgamento de vida, de estilo, de escolhas, de moral. Se isso não é considerado um pecado capital, pode ser que seja uma via expressa para o inferno. E enquanto a música tocava no quarto de Lúcia, eu permanecia vivo e sua irmã no andar debaixo também, apesar de todos os nossos demônios e ao apego aos nossos passados, mas estávamos ali, de alguma forma, como brotos de uma selva devastada.

Desde que me despedi, fui para casa. Liguei o rádio e tocava David Bowie, tomei banho com o som alto e quando já deitado, torci, para que o inferno da irmã de Lúcia, não durasse tanto quando o meu...



quinta-feira, 8 de setembro de 2016

A moral de toda razão

 
Entre as luzes, um garrafa, o punk Rock e os amigos, a vida não fica tão ruim. É certo que nos falta um pedaço do nossos corpos, mas nossa alma permanece intacta, mesmo em constante oscilada, variando entre um copo e outro, entre o  desejo e a nossa realidade.
 Um drinque, um sorriso e uma troca de cigarros. As horas passam, a madrugada vigilante toma o lugar dos sonhos que ficaram esquecidos em nosso quarto.

A realidade é aquilo que criamos. A moral se torna imoral, de acordo com nossas escolhas.
Viver na imoralidade é aceitar a vida de acordo com o que ela de apresenta, sem determinar os valores para a qual a criamos.
Se assim aprendi a ser,
porque tanto tempo reneguei o meu ser?
Se parte do meu corpo ainda vive, a outra parte, mesmo longe de mim, também tem que viver.
Apesar de todo meu luto, devo seguir,
Envolvente com essa música preferida,
sendo repetida mais uma vez,
Essa noite ainda não acabou
levando-nos ao encontro, do nosso eterno  retorno.

Algo surpreendente me espera,
em algum lugar,
em um quarto
de um lugar que eu ainda não ser aonde é,
mas eu estarei lá
quando a hora certa chegar.