segunda-feira, 28 de julho de 2014

  O dia nublado nasce de novo. É belo na primeira vista, esses tons de cinza mostram muito melhor quem somos, do que aquele sol escaldante, que nos deixa abobalhados.  Sentimos necessidade de sorrir em dias nublados, e quando não conseguimos, um cigarro serve para amenizar nossos anseios. Nunca foi tão difícil. Você começa a fazer os cálculos: Anos x Meses, meses x dias, dias vezes horas, dividido por você. Quando você chega ao resultado, é impossível não levantar a cabeça e sentir a vontade de mandar tudo para o inferno. Maldito seja o tempo que não para. Maldita seja a vida que não chega. Sonhos estão à venda, nunca foi tão difícil sonhar aqui, nessa cidade que cheira sangue, ouro e pólvora.


  A vida se resume em perder: perdemos dias, meses, anos, dinheiro, roupas, amigos, parentes, namorados, até que perdemos à própria vida. Depois disso, nunca mais perdemos nada.





domingo, 27 de julho de 2014

Desmembrar



   O mundo gira como um moinho, ela vai e volta. Você nunca sente a ventania chegando perto, nunca percebe a hora que deve pular fora daquele muro. Porra, quando você vê, já está girando feito um joão bobo, no meio desses sorrisos malévolos que te levam para a solidão.

    Você levanta todos os dias, preocupando-se em fazer alguém sorrir. Caminha como senão houvesse outro objetivo, de fato, não existe outro objetivo, mas ninguém precisa saber disso. Você ouve os pássaros cantar, anda por aí há procurar. Vê algumas coisas e ignora, as vezes assisti um culto de demônios em sua frente, mas você finge que eles não estão ali. É bem engraçada, se você tem um objetivo, eles perdem todos os seus poderes. Apenas um sorriso serve para derrubá-los. Mas quando eles percebem que você está sorrindo para não chorar, é a hora do show.

    Nessa instante as flores murcham, os pássaros não cantam, o sorriso não aparece e aquele tom esnobe e egoísta é esfregado na sua cara. Você prefere morrer muitas vezes, é normal, a sociedade do espetáculo adora matar ser atores de desgosto.

   Agora deixe-me ir, preciso andar. Não sei por quais buracos eu vou pisar amanhã, mas sei que vou ter que calçar um bom sapato. Se eles estourarem, é melhor parar de caminhar. Já perdi muitos sapatos  nessa estrada esburacada, agora eu não tenho mais nenhum.





Estrelas também morrem. Como todo ser vivo, um dia perde-se o brilho. Com tanta beleza, um dia se torna digna de pena. Com tanta audácia, um dia é vítima da falácia. Um dia acaba, acaba pra todo mundo. Um dia morre e nada absorve. Nem todos os sonhos duram para sempre. 


terça-feira, 22 de julho de 2014

Dançando junto aos loucos em nosso redor

  Hoje acordei, com uma imensa vontade de continuar dormindo. O sonho estava bom, tranquilo e sossegado. Foi difícil calçar meus sapatos e colocar as mesmas calças de sempre para voltar á realidade. Fazer a mesma trilha e hibernar no mesmo lugar. Nesses dias de tédio da aurora, observo mais o rosto das pessoas. Suas expressões são fantásticas, hora felizes, outrora tristes. Motoristas, padeiros, publicitárias, livreiros e mendigos. Todos seguem seu caminho pela manhã, para os mais diversos rumos, as mais diversas dores, os mais sombrios pensamentos. Parecemos pessoas normais, mas todos são estranhos e eu não faço exceção. O pior de tudo não é fazer parte dessa colméia de gente estranha, o problema está em se estranhar. Sim, olhar no seu próprio rosto e não se reconhecer. Eu não quero o que eles querem. Eu não quero celulares de última geração, nem bajular super-heróis americanos. Eu não quer ir em baladas, me esfregar em todo mundo como se não houvesse outra coisa mais interessante. Eu não quero um novo amor. Eu não quero ouvir novas tendências musicais Eu não quero ser recriminado “gordo, feio, magricelo, grande, pequeno, calvo, idiota, besta’’. Tudo isso é muito comum para esse monte de gente estranha. Eles fazem isso o tempo todo. Mutilam as pessoas com seus olhares e seus julgamentos banais. Mas dançam essa música sem saber, sem ver, sem sentir. Está no sangue, na mente, na sabedoria pífia dessas pessoas do terceiro mundo.



  Sim, hoje o mais estranho foi não querer acordar, e quem sabe nunca mais.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Pequenos arranjos de uma orquestra sem platéia



We'll never stop, once we start...


 
   E quando tudo parece ir para o melhor lugar do mundo. Encontro-me no inferno pessoal novamente. Fazia tempo que não visitava esse local, tudo parece estar no mesmo lugar. O mofo parece enfeitar o local. Os pisos rachados combinam com a aparência cinza contemporânea das paredes. Lá fora a chuva está caindo, derramando suas lágrimas sobre o asfalto e acumulando água pelas sarjetas.

    Concedo sempre a mim mesmo a própria sentença, prefiro a pior possível. É aquela sensação de ir ao banheiro e encontrar seu rosto refletido na água sanitária. Não é legal, mas você acaba se acostumando com o que vê. Quando repouso meu corpo sobre a cama durante a madrugada, a escuridão mostra os tons mais vibrantes, levando-me para um passeio ao meu velho mundo largado, em um lugar qualquer.

    Não sei por quanto tempo estarei nesse lugar, mas tudo que eu quero é levar felicidade para onde eu conseguir chegar. Para onde eu alcançar. Onde eu merecer, onde não seja tarde demais.

   Um sorriso nesse momento, eu ainda consigo ver. Era seu rosto, passou pela minha mente como um fleche agradável de vistas. Gostaria de trazê-la em meus braços em alguns segundo. Um piscar de olhar e pronto. Mas tudo parece tão distante agora meu amor, o horizonte está cada vez mais distante de meus olhos. Gostaria de juntar tudo o que há de ruim nesse mundo e segurar sozinho, só para que nada atrapalhasse o seu sorriso.

   A lua brilhava tão forte sobre nossas cabeças, a fumaça dos cigarros entrelaçavam nossos olhares. Pessoas conversavam alto e os ruídos da cidade ecoavam em nossos ouvidos. Nós sequer percebemos o holocausto social. Só tínhamos tempo um para o outro. Era pura sedução. Era o brilho no olhar que nos mantinha forte e imunes naquele lugar.  Se eu pudesse voltar no tempo, gostaria de regressar naquele lugar, segurar tuas mãos e lhe entregar um pedaço de minha vida.


"So who's to blame , shouldn't be a care.
What's done is done - go from there,
And recuperate. From past mistakes…
We have a choice from rise or fall.”


sexta-feira, 4 de julho de 2014

Divergência de vida, ausência de ser

     Quando fico em repouso no meu aposento, mofando e pensando como mosca em cima do esterco, procuro entender um pouco mais dessa alcateia de pessoas. Gosto de ver como enfrentam suas decepções e como em tons cintilantes demonstram toda sua alegria. Costumam mostrar isso em suas linhas do tempo, isso transparece muito as coisas, mostram de certa forma como elas são, como gostam, como agem, tornam-se previsíveis como o andar de uma tartaruga. Você percebe quando elas elevam um artista, um filme e uma série de televisão, acabam por virar Deuses dessas pessoas. Mas como podemos reprimir tal atitude? É impossível e pouco ético. Esses Deuses fazem bem a elas, se não fossem estes, provavelmente as pessoas explodiriam em pouco tempo.
Vivem procurando algo seguro para se apegar, pois de um todo, só encontram defeitos em si mesmo e encontram sua paz em companhia de algo que nem sempre é real.

    Uma vez estava eu, fumando um cigarro, deixando com que a fumaça deslizasse sobre minha face, trazendo um tom horrivelmente prazeroso sobre minha visão. Observei um homem do meu lado falando no celular – Eu não acredito que ele fez isso, se ele não me pagar vou matá-lo - Fiquei um tanto espantado, mas não surpreso com tal barbárie que ecoava em meus ouvidos. Mais tarde, já em meu trabalho, observando aquela maldita tela de computador, ainda dei ouvidos as conversas paralelas, que diziam – Meu namorado comprou uma moto nova, me levou para jantar, a conta foi caríssima, mas ele pagou tudo, eu acho que homens sempre devem pagar as contas das mulheres - Com um ar de insatisfação, baixei minha cabeça decepcionado com o pensamento desprezível.

    Tento me recompor todas as vezes que escuto algo assim. Sei que o ser humano está engessado com sua opinião antiquada. Cada um tem seu abismo pessoal, e acumulando seus problemas e sua ignorância, faz com que esse abismo olhe para eles. Porém estes, estão muito ocupados com seus afazeres, para observador o buraco que estão criando.
Eu posso ouvir, observar e contabilizar os danos, mas isso não me torna imune a podridão e não quer dizer que eu não seja um deles.