Hoje acordei, com uma imensa vontade de continuar
dormindo. O sonho estava bom, tranquilo e sossegado. Foi difícil calçar meus
sapatos e colocar as mesmas calças de sempre para voltar á realidade. Fazer a
mesma trilha e hibernar no mesmo lugar. Nesses dias de tédio da aurora, observo
mais o rosto das pessoas. Suas expressões são fantásticas, hora felizes, outrora
tristes. Motoristas, padeiros, publicitárias, livreiros e mendigos. Todos
seguem seu caminho pela manhã, para os mais diversos rumos, as mais diversas
dores, os mais sombrios pensamentos. Parecemos pessoas normais, mas todos são
estranhos e eu não faço exceção. O pior de tudo não é fazer parte dessa colméia
de gente estranha, o problema está em se estranhar. Sim, olhar no seu próprio
rosto e não se reconhecer. Eu não quero o que eles querem. Eu não quero
celulares de última geração, nem bajular super-heróis americanos. Eu não quer
ir em baladas, me esfregar em todo mundo como se não houvesse outra coisa mais
interessante. Eu não quero um novo amor. Eu não quero ouvir novas tendências
musicais Eu não quero ser recriminado “gordo, feio, magricelo, grande, pequeno,
calvo, idiota, besta’’. Tudo isso é muito comum para esse monte de gente
estranha. Eles fazem isso o tempo todo. Mutilam as pessoas com seus olhares e
seus julgamentos banais. Mas dançam essa música sem saber, sem ver, sem sentir.
Está no sangue, na mente, na sabedoria pífia dessas pessoas do terceiro mundo.
Sim, hoje o mais estranho foi não querer acordar,
e quem sabe nunca mais.
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