terça-feira, 30 de junho de 2015

Notas de um aspirante



Existe certamente um enigma nessa vida, algo do que e para que, vamos viver por tantos anos. Suspeito que essa dúvida vai padecer por toda nossa eternidade carnal e sentado em nossa cadeira de balanço ainda não encontraremos a resposta para maior parte de nossas perguntas. Porém se é assim que alguém disse que tem que ser, certamente esse alguém estava errado, mas já não há como retroceder esse processo histórico incoerente. A maior incógnita da vida é o que todo questionamento que a sociedade faz conosco, o que vamos ser quando crescer, com que vamos nos casar (mas tem que ser hetero, seguindo padrões conservadores), com o que e com quem vamos morrer. São dias e dias que matutamos o nosso futuro esquecendo-se completamente e nosso presente e da verdadeira razão de existir. A sorte do ser humano é que ele é apto para tudo, sua mente sofre transmutações psicológicas de acordo com seu cotidiano com tamanha facilidade que ele(a) acaba sentindo um prazer em boa parte das coisas que não deveria sentir.


Sendo assim a humanidade consegue gostar de tudo: televisão, rádio, celulares, reality shows, pipoca, cinema, refrigerante, carros do ano, carros velhos, filmes, comunismo, capitalismo, guerra, paz, universidades, ficção ciêntifica, filas de bancos, filas de açougue, carnificina, cabeleireiros, trânsito, praia, cidades, prédios, caos e amor. Mas de uma coisa eu garanto, se você quer viver feliz, não se importe tanto com essas questões da sociedade, não pense muito no mundo e do porque o mundo é mundo. A coisa nasceu errado lá atrás e foi acumulando os erros até que por ventura viemos parar aqui, eu e você. Então não revire as páginas do passado, pois você vai se tornar um depressivo patológico de primeiro grau e nada nesse mundo lhe fará mudar.


Porém somente uma coisa faz o ser humano bambear como se estivesse andando sobre uma corda de circo, é talvez a criação mais cretina de Deus, concedemos o nome dessa coisa de amor. Isso é aquilo que realmente importa para as pessoas, você poderá perder o seu emprego, seus estudos, mas não pode perder o amor, se não perderá um pedaço de você. Sempre existe exceções é claro e quando perdemos o amor, normalmente desejamos ser a parte da exceção. É possível aniquilar esse sentimento, mas devemos estar carregados do mais repleto rancor e com sangue frio correndo sobre as vísceras. Só então vocês poderão expulsar todos o malditos fantasmas que moram em vossos quartos. Vocês devem pensar que sou louco, não excluo a hipótese de vossos pensamentos e nem mesmo da veracidade do mesmo, mas também fui e sou louco por amor e não há nada pior de ver seu corpo ser despedaço por ele. A certeza de incerteza que se alastra sobre a alma é pior do que estar sobre uma guerra-fria, sabendo que pode morrer a qualquer minuto por culpa de um psicopata de qualquer um dos lados.



Do mais meus amigos, sigam firme por ai. O concreto é rachado e sempre vai ser, mas não se preocupe com isso, existem coisas boas que se pode fazer sozinho e as vezes e até rir de si mesmo. Nascemos sozinhos, vamos morrer sozinhos, mas por toda a vida morremos de medo de ficarmos sozinhos. Porque?



segunda-feira, 29 de junho de 2015

A luz dos moribundos

Eu sei que no meu âmbito de fugir, de me esconder, por fim acaba sendo inútil, vou lhe encontrar de qualquer maneira pelo nosso asfalto que coincide em qualquer lugar. Parece que nossas vidas estão destinadas a encontros tortos, nesse caso não podemos evitar, então temos que nos contentar em nos olharmos e desejarmos de certa maneira, de certos âmbitos. Talvez Nietzsche estivesse certo no ponto em que disse 'desejamos mais desejar, do que realmente desejamos o objeto de nosso desejo'. Mas da última vez, desejei mesmo em lhe ter por completo, me lembrando de todas as carícias e toques ao meio da madrugada e um prazer nostálgico infiltrou no meu corpo, como de quem deseja devorar algo que está em sua frente mas não pode. Sim, confesso, quis lhe tragar para dentro de mim, no melhor sentido da palavra. Expulsar não somente algo selvagem dentro de meu corpo, mas um amor que encontra-se estagnado e depois de alguns momentos, despejar sobre você todo doce de um prazer mais do que casual, muito além do casual, e por fim ascender um cigarro e apreciar suas mais belas feições, a leveza de sua pele, a tonalidade de seus cabelos, a espessura de seu lábios e tudo de mais vistoso em você.


No final temos que nos contentar com nós mesmos, mesmo sabendo que nunca encontrarei o mesmo brilho em outros lares. Chega um momento que temos que admitir o fim, por mais desesperançoso que o futuro seja, por mais inútil que seja viver sem viver. Mas nunca se esqueça princesa, esse mundo é sujo e rodeado de impostores, tome cuidado para que nenhum deles despedace o seu lar. Talvez eu tenha que ir embora em um futuro breve, mas não pense que foi por mal, a alma de todo moribundo precisa revigorar, antes que adoeça eternamente.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Alguma coisa sobre desperdício



O tempo anda passando rápido demais, acho que para vocês também. Não vejo muitos problemas quanto a isso, é inevitável ver os ponteiros disparando a sua frente e as latas de cervejas sendo jogadas na lixeira, e o dia cheio de problemas, duplicando novos problemas, freneticamente. Chega uma hora que tudo parece estar inerte, você vai levando a vida do jeito que dá. Passei por algumas decepções nessa vida e ainda passo, todos os dias penso que o mundo está conspirando contra mim, mas muitas dessas vezes é um exagero ou simples modo de falar. A pior coisa é quando nos decepcionamos com outras pessoas, é um sentimento sem escrúpulos. Eu já vi alguns filmes da minha vida real e sinto que eles estão prestes a se repetir. Pessoas normalmente não tem pudor algum, nunca se pode esperar muito dos seres humanos, mas isso você tem que imaginar antes que aconteça, mas sempre damos mais uma chance, mais uma moeda para a vida, mais uma brecha para a repetição, para o diabo tomar conta das coisas; mais uma oportunidade para um copo cheio de uísque e tristeza sobre a mesa.


Estou me acostumando a viver enquanto vejo amigos morrendo. A maior parte deles estão casando-se com as pessoas que não amam; casam simplesmente para fugir de uma prisão, a prisão da obrigação, ser um bom cidadão em um lugar sujo, rodeado de baratas e ratos roedores com roupas de algodão. Depois levam a vida de qualquer jeito, trepam, fazem filhos, viram adúlteros, vão aos jogos de futebol, a sinuca, a farmácia, as filas de supermercados, aos bancos, eles gostam de tudo isso. Eles gostam de tudo que seja entediante, deve ser fácil viver desse jeito, por isso vivem com aquele olhar sem brilho, sempre empurrando a vida ladeira abaixo, um dia a mais, com um sorriso pacato, rumo ao abismo, sem perceberem que isso não faz sentido e se por acaso algum dia fizer, já será tarde demais.


A menina dos sonhos nunca realizados

Era uma menina no auge de seus 14 anos, olhos verdes e retumbantes, seriam lindos se não fosse pelo fato de serem um pouco tortos. Junto com seus olhos seu corpo franzino a levava para mais absoluta timidez social. Era regada de sentimentos puros e toda aquela coisa de amor platônico, mesmo que ela não soubesse o que aquilo significava. Gostava de um garoto da sala do lado, um menino que veste preto, gostava de rock n roll, sorria sempre com seus amigos. Todo o intervalo lá estava ela, na espreita, a olhar-lo com seus olhos verdes e tortos, ele nunca ligava, sequer percebia.

A garota se rastejava com seu corpo e seu jeito de andar estranho, era obsoleta a tudo, quase ninguém falava com ela, não era bonita, logo não era popular, é assim que é a vida em muitos lugares. Uma ou outra pessoa concedia a amizade a ela, normalmente eram jovens com os mesmos problemas sociais, sempre aparecerá alguém que lhe estenda uma muleta para lhe ajudar a caminhar. É um mundo sujo eu sei, é inevitável.


Passava todas as noites pensando naquele garoto que veste preto, imaginava-se sentada no quarto ao lado dele, ouvindo as bandas preferidas, conversando sobre qualquer coisa, acariciando seus cabelos, vislumbrando seus olhos e tocando teus lábios. Era tudo que ela queria. Tudo que ela desejava naquele momento. Lágrimas secas por muitas vezes coravam seu rosto, como gostaria que tudo fosse diferente, como ela gostaria de ser notada em algum momento. Dentro de seu coração tinha tanto amor que ela poderia alimentar pessoa por pessoa na face da terra, com aquele sentimento puro e magnânimo.  Era um sentimento jovial, genuíno e sincero, bem diferente daquele tipo de amor, que inevitavelmente acabamos conhecendo depois de um certo tempo de vida, quando já estamos calejados com decepções que nos levam a abstrato de nossa própria alma.


Eu gostaria de terminar dizendo que a garota conseguiu realizar seus desejos, mas o mundo não é um filme previsível que acostumamos a assistir e aplaudir no final. Os dias passaram e ela continuou desejando e se condicionou a desejar eternamente, sabia que sua ânsia era inviável e não sabia bem o porquê, mas tinha vergonha demais de si mesmo, por isso não ousou conquistar a pequena proeza de ao menos trocar palavras e olhares com o menino que veste preto. Essa vergonha está enraizada na sociedade perfeita, na ditadura dos corpos perfeitos e ela se sentiu expulsa de si mesma, sucumbida então, de seu direito de amar por não amar a si mesma. Assim é que acontece todos os dias, lágrimas e gemidos abafados estão dentro dos quartos mais abafados ainda, no calar da noite, onde somente as estrelas podem entender, do mais, ninguém se importa.

quinta-feira, 18 de junho de 2015



As vezes eu pago muito caro por esperar demais das pessoas. Nós estamos acostumados a esperar. Sem perceber esperamos nas filas de banco, nas filas da padaria, nos guichês de supermercados, no balcão de um bar para a próxima bebida, esperamos na fila de entrada dos hospitais, os exames e a prestação que vai vencer. Mas tudo isso conseguimos administrar por puro hábito social,  esse hábito não é o mesmo com pessoas. Das pessoas esperamos um pouco mais, esperamos receber ligações e essas ligações nunca chegam, ao menos da forma que você espera. Esperamos uma mensagem de alguma forma e sequer aparece um pombo correio e quando aparece, acaba cagando na sua cabeça e sem nenhuma carta. Esperamos ser notados, esperamos por acharmos que somos importantes e a cada momento percebemos que nossa importância não é tão grande assim. Esperamos ansiosamente para que alguém veja aquele trabalho que você se esforçou, e simplesmente passa os minutos, horas e os dias e nada foi visto, no final, sempre tem a mesma desculpa de sempre.

Do mais você acaba se tocando que é você com você mesmo e se não perceber isso a tempo, também vai passar sua vida inteira esperando, esperando tudo aquilo que já não tem como esperar.



É um mundo sem alma.