Era uma menina no auge de seus 14 anos, olhos verdes e
retumbantes, seriam lindos se não fosse pelo fato de serem um pouco tortos.
Junto com seus olhos seu corpo franzino a levava para mais absoluta timidez
social. Era regada de sentimentos puros e toda aquela coisa de amor platônico,
mesmo que ela não soubesse o que aquilo significava. Gostava de um garoto da
sala do lado, um menino que veste preto, gostava de rock n roll, sorria sempre
com seus amigos. Todo o intervalo lá estava ela, na espreita, a olhar-lo com
seus olhos verdes e tortos, ele nunca ligava, sequer percebia.
A garota se rastejava com seu corpo e seu jeito de andar estranho, era obsoleta a tudo, quase ninguém falava com ela, não era bonita, logo não era popular, é assim que é a vida em muitos lugares. Uma ou outra pessoa concedia a amizade a ela, normalmente eram jovens com os mesmos problemas sociais, sempre aparecerá alguém que lhe estenda uma muleta para lhe ajudar a caminhar. É um mundo sujo eu sei, é inevitável.
Passava todas as noites pensando naquele garoto que veste preto, imaginava-se sentada no quarto ao lado dele, ouvindo as bandas preferidas, conversando sobre qualquer coisa, acariciando seus cabelos, vislumbrando seus olhos e tocando teus lábios. Era tudo que ela queria. Tudo que ela desejava naquele momento. Lágrimas secas por muitas vezes coravam seu rosto, como gostaria que tudo fosse diferente, como ela gostaria de ser notada em algum momento. Dentro de seu coração tinha tanto amor que ela poderia alimentar pessoa por pessoa na face da terra, com aquele sentimento puro e magnânimo. Era um sentimento jovial, genuíno e sincero, bem diferente daquele tipo de amor, que inevitavelmente acabamos conhecendo depois de um certo tempo de vida, quando já estamos calejados com decepções que nos levam a abstrato de nossa própria alma.
Eu gostaria de
terminar dizendo que a garota conseguiu realizar seus desejos, mas o mundo não
é um filme previsível que acostumamos a assistir e aplaudir no final. Os dias
passaram e ela continuou desejando e se condicionou a desejar eternamente,
sabia que sua ânsia era inviável e não sabia bem o porquê, mas tinha vergonha
demais de si mesmo, por isso não ousou conquistar a pequena proeza de ao menos
trocar palavras e olhares com o menino que veste preto. Essa vergonha está
enraizada na sociedade perfeita, na ditadura dos corpos perfeitos e ela se
sentiu expulsa de si mesma, sucumbida então, de seu direito de amar por não
amar a si mesma. Assim é que acontece todos os dias, lágrimas e gemidos
abafados estão dentro dos quartos mais abafados ainda, no calar da noite, onde
somente as estrelas podem entender, do mais, ninguém se importa.
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