domingo, 5 de julho de 2015

Da sessão: Só mais um dia da vida de alguém




Era um prédio antigo, habitado por muitos senhores e senhoras, no alto de sua terceira idade. No térreo, um porteiro, aparentemente com 60 anos, debaixo de um sol escaldante de social e paletó, secando constantemente o suor de sua testa. Um jovem rapaz se aproxima e pergunta:
— A senhora Lizete se encontra.
— Ela teve que sair porém avisou que viria um rapaz vê-la, pediu para que aguarde que logo ela vai voltar.
— Tudo bem, vou esperar, respondeu o visitante.

Os olhos do garoto percorreram por toda volta. O chão liso e desbotado, não devia ser encerado há pelo menos oito anos. Uma TV de 14 polegadas, com antenas servia de entretenimento para o porteiro e qualquer hospede que ousasse colocar os pés ali. As paredes com um amarelo sujo, davam um  tom de tristeza ao lugar e nos cantos altos das paredes, pequenas teias de aranha se acumulavam.
— Há quanto tempo trabalha aqui, de repente perguntou o jovem.
— 15 anos, respondeu pontualmente o porteiro. Como se já esperasse por essa pergunta.
Em seguida um silêncio tomou conta do lugar.

Se ele fosse avisado quando jovem, que terminaria sua carreira sendo um porteiro de um hotel velho e embolorado, será que aguentaria viver até aqui?
Nada mais foi pronunciado, a não ser o surto do silêncio infinito.

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