domingo, 26 de julho de 2015

Fui  chamado para uma reunião de amigos nesses últimos dias, não estava muito disposto mas também estava sem muito o que fazer. Pensando que só teria coisas ruins para beber, levei uma garrafa de uísque por minha conta, de fato foi a melhor coisa que eu fiz, certamente eu teria ficado enjoado se bebesse toda aquela mistura de álcool e refrigerante. As pessoas tem o dom de torturar seu próprio estômago e querem torturar o dos outros, por isso preservo pelo meu torturando-o do meu jeito, menos sagaz.

Ao centro da reunião tinha uma fogueira do qual meus olhos pairavam ao centro e acompanhavam o dançar sedutor das chamas. Eu estava lá para exorcizar alguns demônios e a fogueira era perfeita para isso e devido a isso fiquei lá, quieto, sem falar muito com ninguém. Porém de certa forma um antigo amigo se aproximou, sentou ao meu lado e começou a falar. Deixei-o terminar o cerimonial de apresentação e então o indaguei:

- Porque não pega uma cerveja?
 Eu sabia que ele era um alcoólatra de primeira e o motivo dele não estar bebendo me suava estranho.

- Estou bebendo devagar, não quero passar da linha, ultimamente chego muito alcoolizado em casa e as vezes deixo até a porta aberta, respondeu com a cabeça baixa.

 Acenei com as mãos ele prosseguiu dizendo que haverá perdido a mãe há poucas semanas e tem uma sensação horrível todas as vezes que chega em casa e não encontra ninguém a sua espera.

Nesse momento concedi meus sentimentos e quando olhei para seu rosto, vi-os esbaldando em lágrimas. Poucas vezes virá um homem chorar na minha frente e de longe esse fora a mais comovente.


As pessoas escondem todos as suas lágrimas, mas chega um momento em que ela precisa despejar e necessariamente tem que ser ao lado de alguém. Não precisa ser uma pessoa mais próxima, apenas alguém que lhe entenda. Eu o entendi e ele também entendeu meus problemas. Eram demônios familiares cada qual em sua posição. Certamente as outras pessoas em volta da fogueira despejavam sobre as chamas suas lágrimas, mesmo que fosse em silêncio, mesmo que fosse sem ninguém notar. Era o mundo do disfarce. Temos que disfarçar que somos fortes em um mundo que nos deixa cada vez mais fracos.



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